Sim, adoramos viajar para grandes capitais e outras cidades para conhecer os principais pontos turísticos dos locais, aqueles que aparecem indicados em nove de dez blogs ou sites de viagens.
É óbvio que uma pessoa vai a Paris e vai fazer uma foto na Torre Eiffel, mais óbvio ainda se ela for ao Rio de Janeiro e subir o Corcovado para conhecer o Cristo Redentor. Que delícia também ter a oportunidade de visitar a praia de Surfers Paradise, na Austrália, e ter a chance de ver toda a Gold Coast a mais de 320 metros de altura, do topo do maior edifício residencial do mundo, o Q1.
Posso até receber críticas por este post, mas na minha concepção, viajar vai muito além daquela foto do cartão postal mais vendido na feirinha local ou daquela que vai ilustrar o seu perfil na rede social.
Acho muito legal e louvável uma pessoa dizer “eu já fui” a tal lugar numa roda de conversa e as outras dizerem que também já foram, afinal, quem não gostaria de dizer para o mundo que conhece as praias de Copacabana, no Rio, ou Jurerê Internacional, em Florianópolis, ou a Estátua da Liberdade em Nova York, por exemplo?
Porém, nesta mesma roda, a conversa pode parar no “eu também já fui” e mostrar a foto no celular pode fazer com que a resenha se estenda só um pouco mais.
Acredito que viajar, como turista, não é simplesmente você sair do conforto da sua casa para esquecer da rotina e passar uma semana em qualquer lugar desconhecido que seja apenas para relaxar. Ora, se o lugar é desconhecido, eu quero mais é saber o que tem de diferente, além dos pontos já conhecidos por todos.
Costumo dizer que uma viagem é bem aproveitada quando você chega cansado dela.
Quero sair de carro de São Paulo em direção a Bonito, passar por uma dezena de cidades, parar em uma delas e almoçar um prato à base de peixe da região do Rio Paraná.
Quero chegar na mesma Bonito, saber que é uma cidade que tem absolutamente tudo – supermercado grande, autoelétrica, restaurantes caseiros, bares fora do circuito turístico -, mas também conhecer a dona da pousada e saber porque ela se mudou de Brasília há anos desde que visitou a cidade pela primeira vez. Ou saber também porque o guia ecoturístico voltou a morar na cidade depois de trabalhar em outros paraísos naturais do Brasil durante anos e que agora não troca a cidade por nada.
Quero visitar Belo Horizonte, alugar uma bicicleta e pedalar pelos bairros em volta da lagoa da Pampulha e ter a chance de conhecer o vendedor de coco que está naquele ponto há 20 anos ou pedalar pelos bairros australianos e ver répteis andando livres pelas ruas.
Quero descer a pé uma das principais avenidas de Montevidéu ou uma pequena rua em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e ver de perto sua arquitetura centenária, saber se os moradores conversam na calçada, se eles interagem com os turistas ou não.
Quero respirar profundamente e saber se o ar da Nova Zelândia é tão úmido quanto ao de onde moro, quero “descobrir” as pequenas ruas de Paris que vendem roupas a 1 euro, quero ouvir de um morador local onde é o ponto mais alto da cidade para assistir ao pôr do sol.
Quero viajar na minha viagem e ter história para contar…
Sim, com uma máquina fotográfica na mão, a minha “viagem” ainda será comprar um mapa da cidade, saber onde estou e decidir para onde vou, seja a pé ou de avião.
Pode ter certeza, quando você voltar, a conversa naquela roda de amigos vai durar o dia inteiro – e a noite também!