Nesse mundo sempre mais saturado dos blogs de viagem, tenho a honra de contar com a amizade de muitos dos(as) melhores blogueiros(as) da internet brasuca. Nesses anos de estrada acabamos virando uma grande família que se ajuda e cresce junta, compartilhando sonhos, desafios e conquistas. E é nessa vibe positiva que decidi criar a série Parceiros de viagem, onde blogueiros(as) convidados(as) – autores dos meus blogs de viagem preferidos – vão contar um pouco como tudo rolou, desde a criação do blog até os projetos atuais.
Nosso primeiro convidado é o jornalista mineirinho gente boa e aventureiro Rafael Sette Câmara. Ele, a Naty e a Luíza fazem um trabalho inspirador no blog 360meridianos:
Por mais que eu ame viajar, nunca imaginei que uma viagem poderia mudar minha vida de forma tão profunda. Tudo bem que não foi um roteiro qualquer: durou 10 meses e envolveu 14 países, em quatro continentes. No meio disso tudo, uma parada de seis meses na Índia, para um intercâmbio profissional. Fiz essa viagem de volta ao mundo entre 2011 e 2012, junto com duas amigas. Minha vida nunca mais foi a mesma desde então.
Embarquei nessa aventura meio que por acaso. Dois meses antes de pegar o primeiro avião, eu nem sabia que uma viagem dessas seria possível (e, principalmente, pagável) para mim. Assustados com os preços das passagens para a Índia, cogitamos, meio que de brincadeira, comprar uma passagem de volta ao mundo. Fomos consultar os valores e as regras para descobrir, não sem muito espanto, que era possível sim, mesmo para três jornalistas que tinham acabado de sair da universidade. Era até mais vantajoso do que só comprar as passagens para a Índia, ida e volta, já que a viagem ficaria muito maior.
Inclusive, devo dizer que a Índia foi outra surpresa – era um dos países onde eu não queria morar de jeito nenhum. Mas não é que foi exatamente lá que eu consegui uma vaga de emprego? E o acaso ainda quis que a Naty e a Luíza, namorada e uma amiga de longa data, também achassem empregos na mesma cidade indiana. Pronto! Tínhamos todos os motivos para criar um blog e relatar aquela longa viagem feita de improviso.
O nome do blog foi escolhido dias antes da partida, após dezenas de possibilidades descartadas. O primeiro post, que contava o roteiro da aventura que estávamos prestes a começar, foi escrito na área de embarque do aeroporto de Guarulhos, onde esperávamos o primeiro voo de muitos que viriam. E assim, aos trancos e barrancos, nasceu o 360meridianos.
A verdade é que no começo quase ninguém lia, só mesmo familiares e alguns amigos. Foram meses assim, dias e dias sem ninguém aparecer por lá. E olha que os seis meses na Índia renderam histórias incríveis. O primeiro interesse maior por parte das pessoas veio com o post 7 coisas que não existem na Índia (e você não sabia disso). Nossos colegas e amigos se divertiram com os perrengues que a gente estava passando na Índia. Compartilhavam, com muitas gargalhadas, nossa história. Algo do tipo, “olha onde esses doidos foram se meter”, sabe?
Pouco a pouco, outros leitores importantes chegaram. Foram os blogueiros. Um dos primeiros foi o Michel, que naquela época já era dono de um blog fodão e cheio de história para contar. Essa turma deu o maior apoio, passando a divulgar e a colocar o 360meridianos no mapa. A eles (e em especial ao Michel), eu sou muito grato.
No blog, narramos nossa emoção ao pisar na Europa pela primeira vez. Contamos o tremendo choque cultural que vivemos na Índia, algo que dava vontade de sair correndo do país. Nas montanhas do Himalaia, vi neve pela primeira vez na minha vida. Na fronteira com o Paquistão, dormi num deserto que já foi usado para testes nucleares. No temido rio Ganges, nadei, mergulhei e fiz rafting. Amei e odiei a Índia tão intensamente que aqueles seis meses pareceram anos, tamanho o aprendizado e o crescimento pessoal que tive no país.
De lá, fomos para o Nepal, Hong Kong, Malásia, Tailândia, Cingapura, Indonésia, Nova Zelândia, Chile e Peru. A minha viagem de volta ao mundo foi incrível, mas acabou. Voltei ao Brasil e ao meu antigo emprego. Durei 3 meses, mas minha vontade era pedir demissão na primeira semana. Depois, me mudei para São Paulo, novamente disposto a trabalhar com jornalismo. Em nove meses, passei por duas empresas, sempre com a sensação de que alguma coisa não estava certa – eu não queria mais aquele modelo de trabalho. Foi aí que eu larguei tudo e vez. Virei um nômade digital.
Isso significa que hoje eu trabalho de qualquer lugar, a qualquer hora. Só preciso de uma conexão para entregar meus frilas dentro do prazo. Além desses serviços ocasionais, passamos a nos dedicar ao blog de uma forma profissional, que hoje ocupa a maior parte do meu expediente. A vantagem? Posso trabalhar viajando. Foi isso que fiz este ano, durante dois meses, quando mochilei e trabalhei pela Europa. Escrevo esse texto de uma cidade de praia do Espírito Santo, minha casa pelas próximas semanas. E assim a vida segue, completamente nômade.
Percebeu como uma viagem mudou a vida de três pessoas? Hoje eu sou mais blogueiro de viagens do que jornalista (tenho mais orgulho do primeiro cargo do que do segundo, inclusive). Como blogueiro, posso passar adiante as experiências que vivi, posso contar sobre os lugares que visitei. Posso mostrar que realizar sonhos que parecem irreais é uma tarefa possível.
Eu amo escrever sobre cidades históricas, praias paradisíacas ou dar dicas de viagem. Apesar disso, o legal mesmo é poder ajudar quem deseja buscar uma vida mais feliz. É perceber que alguma coisa que eu escrevo é capaz de inspirar pessoas. Mostrar os aprendizados que tivemos durante esse período sábatico e porque uma viagem assim pode ser uma boa decisão pessoal e até mesmo profissional.
Viagens são importantes porque abrem a cabeça do viajante, tornam ele uma pessoa mais madura, mais preparada para entender o mundo e perceber que as coisas não são exatamente do jeito que a gente acredita – existem bilhões, do outro lado do globo, que têm outras noções de religião e educação. Viajar me ajudou a entender que o mundo é complexo e que todos nós temos preconceitos que nem imaginamos. E aceitar isso é o primeiro passo para superar e deixar os preconceitos de lado.
Ao mesmo tempo que aprendi muito sobre a complexidade do mundo e suas diferenças, percebi que, no fundo, naquelas coisas que realmente importam, nós não somos tão diferentes assim, seja você brasileiro ou tailandês. Em essência, todos buscam a mesma felicidade e passam por problemas bem parecidos.
Viajar tem o poder de mudar vidas, basta estar aberto para aquilo que o mundo tem a ensinar. Aconteceu comigo.
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