Existem posts despretensiosos que acabam “ganhando vida” e fico feliz de ter sido o caso do “Os desafios e dificuldades de aprender novas línguas estrangeiras“. Foi muito legal compartilhar experiências de convidados especiais e acabei recebendo outros depoimentos, então decidi compartilhar mais perrengues e coisas inusitadas durante o aprendizado de novas línguas.
Como havia falado, moro em um país com 4 línguas oficias (Suíça) e estou sempre com pessoas que falam os mais diversos idiomas. Acho chato quando não consigo entender, mas é um incentivo para continuar aprendendo sempre! Nessa segunda parte são citadas línguas famosas como inglês, espanhol, alemão e italiano, mas também de línguas inusitadas como hinglish e suíço-alemão. Agradeço a participação e convido você a deixar um comentário contando a tua experiência pessoal – já que o sistema de aprendizado pode ser parecido, mas cada um reage e absorve de um modo diverso. Here we go:
HOLANDÊS: Os holandeses fazem questão que você fale a língua deles caso você decida deixar a turma dos turistas e resolva se misturar com os nativos na muvuca de bicicletas de uma maneira um pouco mais permanente. Pra alguns candidatos a holandeses honorários é exigida uma prova e/ou um curso pra demonstrar/adquirir o domínio do idioma ao ponto de poder dizer “holandês não é só alemão com algumas palavras roubadas do francês e do inglês, é uma língua totalmente diferente” com a cara limpa, sem rir e acreditando. Mas o engraçado (ou trágico) é que essa questão toda de que os novos companheiros de ciclovia aprendam o linguajar local é acompanhada de uma estranha recusa de falar o linguajar local com os novos companheiros de ciclovia. É assim, eles acham uma gracinha se você é turista e está fazendo um esforço, aprendeu a dizer “dank u wel” e “goedemorgen”. Agora, se eles notam que você não é holandês, já viram pro inglês. E desenvolver a cara de pau de insistir no holandês quando eles te olham com uma cara de “que língua você está tentando falar?’ (“a sua, a SUA!), é um dos principais desafios – e um dos mais importantes para poder aprender a língua. Porque no fim, língua, como qualquer coisa, se aprende errando.
[ Daniel Duclos | @ducsamsterdam | Ducs Amsterdam ]
INGLÊS (HINGLISH*): Eu fiz um curso intensivo de inglês antes de partir para meu intercâmbio. Mais: eu, que nunca fui muito bom em dominar novos idiomas, já dava aulas básicas de inglês no tal curso, pouco antes de pegar meu certificado. Isso significa que eu entrei no avião achando que seria simples passar seis meses me comunicando em outro idioma o que, óbvio, não foi. É que eu fui viver na Índia, país onde o inglês não é a língua principal – esse é o papel do hindi. O idioma dos colonizadores é só mais um no meio das dezenas que existem por lá. No meio de uma verdadeira Torre de Babel, é claro que o inglês não é igual ao que é falado na terra da Rainha. Palavras, sotaques, pronúncias são diferentes no inglês indiano, a ponto de ter gente que chama essa língua por outro nome: *hinglish, mistura de hindi com english. Sério, pode procurar que tem até verbete na Wikipédia provando que o hinglish existe. Aprender alguma coisa de hinglish não foi apenas uma experiência divertida, mas necessária para a sobrevivência. Só assim era possível comprar produtos nas feiras, pegar tuk-tuks para voltar para casa depois do trabalho e, o mais importante, me comunicar no tal do trabalho. E olha que a língua oficial na empresa nem era hindi, mas punjabi. Um dos meus chefes, inclusive, não falava hindi, só arranhava o inglês e tinha como língua nativa o punjabi. E no meio disso tudo ainda estavam outros estrangeiros, já que lá também trabalhavam uma americana, uma húngara, uma russa e vários brasileiros, afinal todo mundo sabe que brazuca atrai mais brazuca. Muitas vezes eu não entendia o que falavam comigo. Meu consolo é que eu tenho certeza que eles também não faziam ideia do que dizia, em hinglish ou em inglês mesmo.
[ Rafael Sette Camara | @360meridianos | 360meridianos ]
ITALIANO/INGLÊS: Eu sempre fui apaixonada por línguas. Desde criança, prestava atenção em legendas de filme, em músicas, em tudo o que era em inglês. Tentava imitar os sons e aprender sozinha. Acho que essa paixão foi o que me fez começar a gostar tanto de viajar! Hoje, quando viajo, é a mesma coisa. Fico tentando aprender palavras novas e me comunicar na língua local! E eu descobri que tenho muita facilidade em pegar o sotaque dos lugares. Isso é bom e ruim para aprender uma língua nova! Bom porque quem escuta tem a sensação que eu falo bem porque parece com o que eles estão acostumados. Ruim, porque as vezes eu faço vários erros de gramática, mas eu não percebo porque fica “escondido” atrás do bom sotaque!
Eu estudei italiano muitos anos da minha vida e, em 2004, morei na Milão com duas italianas da Sicília. Foram elas que me ensinaram a falar italiano bem. Alguns anos depois, já no Brasil, conheci dois italianos e sempre que eu conversava com eles, percebia que eles se olhavam com uma cara estranha. Um dia perguntei se era porque eu falava mal italiano, e eles falaram que na verdade eu falava algumas palavras de um dialeto da Sicília e com um sotaque muito forte! Foi ai que percebi que sem querer, eu estava “imitando” o jeito de falar das minhas amigas!
[ Dri Lima | @DicadaDri | Dica da Dri ]
ALEMÃO: Já li em algum lugar que uma vida não é suficiente para aprendermos verdadeiramente o alemão. Não concordo inteiramente com isso, mas o fato é que o idioma requer muito estudo, dedicação e paciência! Cheguei à Alemanha em 2010 só com o nível básico. Nos primeiros dias tinha uma confiança surpreendente, falava com os vendedores, comprava as coisas e me virava sozinha. Depois, vi que não seria tão fácil. Tinha três meses para ser aprovada na proficiência de nível intermediário, exigência do mestrado que ia fazer. Fiz um curso intensivo aqui na Alemanha, estudava 10 horas por dia e passei. Na época, achei que tudo seria naquele ritmo crescente de aprendizado que vinha alcançando. Mas chegar a um nível avançado é muito mais difícil, nem sei mensurar, pois ainda não estou lá. O alemão não é daquela língua que basta ouvir sempre ou morar no país que você aprende perfeitamente. Quando não tinha tempo para estudar – por causa das aulas do mestrado, em inglês – meu alemão despencava muitos degraus. Eu vivia na Alemanha, mas também precisava ter tempo de estudar todos os dias. Agora, já com o mestrado terminado, voltei aos meus estudos diários e encontro mais segurança a cada dia. Ainda não trabalho, este é o meu próximo desafio. É gratificante quando elogiam a minha desenvoltura, mas é igualmente desanimador quando cometo um erro bobo. E os erros acontecem com maior frequência que os elogios, infelizmente. Mas gosto do idioma alemão, é uma língua lógica e desafiadora. Acho sinceramente que, para atingirmos a fluência, devemos estudar para sempre. É muito agradável ver os nossos avanços, dá uma energia extra para continuar! Não busco, contudo, a perfeição. Reconheço as minhas fraquezas no sotaque, por exemplo! Desejo que um dia eu consiga me expressar completamente, este é o meu objetivo.
[ Giselle Gurgel | @fraugurgel | Frau Gurgel ]
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INGLÊS: Aprender a falar inglês é algo que muitos têm como objetivo, mas aqueles que vão em busca de uma profunda imersão no idioma, em um país onde essa seja a primeira língua, logo percebem que o investimento terá retorno certo. A minha experiência por 3 meses na Nova Zelândia (2008) e agora 2 anos de Austrália (2011 – 2013) estão fazendo e sempre farão uma grande diferença na minha vida. Assim como muitos brasileiros, quando cheguei aqui em Sydney, em fevereiro de 2011, pensei que sabia falar inglês, só porque fiz um curso de 1 ano no Brasil e passei uma temporada de 3 meses na Nova Zelândia, achava que chegaria aqui “abafando”. Logo percebi o quão enganado eu estava. Percebi que falar inglês é muito mais do que dominar um pouco de gramática e ter um certo vocabulário. Percebi que não é apenas falar um inglês correto que é importante, mas sobretudo, saber identificar o contexto no qual estamos inseridos e nos adequarmos a ele. É aí que entram as Collocations (combinações de palavras), as SLANGs – (Street Language), as expressões idiomáticas (idioms) e os phrasal verbs, muito importantes para a “sobrevivência” de um estrangeiro num país de língua inglesa. Sem esses 4 elementos que mencionei acima, você pode até ter um inglês BOM, as pessoas lhe entenderão, mas você NÃO soará natural. E isso poderá ser determinante na sua interação com os “locais”. O australiano, por exemplo, por ser um povo bastante reservado, tem a tendência de NÃO fazer amizades tão facilmente, diferente de nós brasileiros. Normalmente, eles se mantém em seus grupos de amigos, surfistas, colegas de trabalho, etc. Adivinhem o que pode quebrar essa barreira? Um inglês fluente e natural, uma pronúncia “bacana” e um conhecimento geral sobre a cultura do lugar. É assim que vejo muitos brasileiros se sobressaírem, em suas relações sociais e na vida profissional aqui no país dos cangurus!
[ Sávio Meireles Lemos | colaborador Um Mundo em Uma Mochila ]
INGLÊS/ESPANHOL: Fui daquelas crianças que aos 9 anos já estava fazendo inglês numa dessas escolas de idiomas que se multiplicam por aí. Depois, foi a vez de aulas de espanhol ainda no colégio. Aos 15 anos, já me virava muito bem nos dois idiomas, no entanto, ambos apenas me serviam pra traduzir músicas adolescentes e pra me dar bem no vestibular, afinal, consegui praticamente zerar em física, mas gabaritar em inglês. Pois bem. Já na universidade e trabalhando desde os 16 anos, confesso que minha “carreira” nunca exigiu muito dessa área. Com exceção da leitura de alguns textos e livros nos tempos de Faculdade de Educação. O tempo foi passando e a falta de prática, principalmente em conversação, me fez perder muita coisa. Uma pena. Aos 21 anos me formei e resolvi resgatar meu inglês num intercâmbio pelos EUA. Na verdade, o idioma foi a “desculpa’ pra poder viajar e começar a conhecer o mundo. Preparei toda a burocracia, pagamos todo o programa, tinha encontrado a minha família americana em New Jersey, mas eis que aos 45min do 2o tempo surgiu a ótima e irrecusável oportunidade de trabalhar com o que eu mais queria aqui em São Paulo e acabei cancelando o curso. Sim, me chamaram de maluca, afinal estava trocando os EUA por um trabalho numa comunidade carente na zona sul paulistana. Não, não me arrependo, pois nunca tive o sonho de morar nos EUA. O tempo passou novamente sem exigir muito do meu inglês e do espanhol, até que tive a chance de “morar” um mês em Amsterdam, pois meu namorado na época morava/trabalhava lá. Enquanto ele trabalhava o dia todo, eu tinha que me virar pela cidade, mas do holandês só aprendi a sorrir pra todos e dizer “alstublieft” em toda e qualquer situação. Mas percebi que eles aceitavam bem o inglês, diferentemente dos franceses e logo me forcei a resgatar o inglês adormecido e não utilizado de anos. Em meio à muita tensão em supermercados, drogarias, lojinhas, mas aliada à minha cara de pau eterna, consegui sobreviver. E dali em diante, vi que era possível e da forma que eu mais gostava. Caí no mundo, voltei à Europa e fiz algumas viagens pela América Latina, ora acompanhada, ora sozinha, onde reaprendi meu espanhol/inglês e a cada destino novo, me distancio daquele portunhol safado que é até bem aceito e falado no Uruguai, Argentina e Chile, mas à medida que você vai subindo o continente, como em Cuba ou Costa Rica, por exemplo, vai se exigindo cada vez mais de você. Como diz o velho ditado: “a necessidade faz o homem”. Portanto, com uma noção do idioma (sim, é importante saber algumas expressões/palavras no idioma do país que você está viajando. Acho elegante e só contribui!), com uma dose de cara de pau para conhecer gente e interagir, outra de disposição pra aprender com as situações num país que não é o teu, provavelmente você melhorará e muito a sua forma de compreender e falar outro idioma. Meu trabalho no Brasil continua exigindo pouco do meu inglês/espanhol, mas a cada viagem planejada e vivida, volto a ter a segurança dos meus 15 anos, quando estava no ápice dos eternos cursinhos de línguas. Leve a sério todos os clichês que você já deve ter ouvido e lido por aí a respeito de viagens e VIAJE. Como professora, posso dizer que o melhor aprendizado não vem da lousa, dos exercícios de fixação ou das provas bimestrais. O maior aprendizado vem das experiências vividas por aí, no momento em que você sai da sua zona de conforto.
[ Vanessa Aguilera | @aguilera13 | Diário de Mochileiro ]
ALEMÃO: Vim para a Alemanha em Março de 2012. A idéia era ficar apenas 6 meses. Mas, francamente, eram muitos castelos, cervejas e pessoas para se conhecer em apenas um semestre. Sempre quis aprender alemão na minha vida. Meu plano caiu por água abaixo quando cheguei em Berlim e me dei conta que estava em uma metrópole, onde todo mundo fala inglês e você praticamente não acha um trabalho se não for bilíngue. Eu tinha alguma noção desse idioma tão maravilhoso antes de vir pra cá, mas minha paixão só cresceu depois que mergulhei fundo na língua das assustadoras declinações e das palavras de mil letras. Joguei o inglês pra escanteio e insisti. O baque inicial passa depois do tempo 🙂 Senti falta do Brasil e voltei para as férias no fim de 2012, mas não resisti: Achei um jeito de voltar pro velho continente rapidinho. Minha paixão pela Alemanha é como aqueles amores intensos que a gente tem na vida. Eu ainda tenho muito mais a aprender. Eu continuo conhecendo pessoas, castelos e cervejas, mas agora em Munique, uma cidade bem mais tradicional e bem menos internacional do que Berlim. Aprender alemão pode parecer desesperador no início, mas o esforço vale a pena depois que você escuta em alto bom tom: “Menos de um ano aqui? Du sprichst aber gut Deutsch!”. Recompensador!
[ Thalita Milan ]
ALEMÃO/SUÍÇO-ALEMÃO: Ah.. esse alemão! Trauma!! Sou casada há muito tempo com um suíço alemão. No começo até estudava alemão aqui no Brasil para quando visitasse os familiares do marido. Mas chegava na Suíça e ficava na mesma, sem entender nada, pois o dialeto é bem diferente! Procurei então “aprender” o dialeto, e o que resultou disso é uma misturada danada! Falo tudo errado, mas a gente acaba se entendendo…
[ Tânia Ruf ]
Agradeço mais uma vez a participação, não deixe de conferir o post onde tudo começou: Os desafios e dificuldades de aprender novas línguas estrangeiras.
Abraço e paz!
Michel P. Zylberberg
www.rodandopelomundo.com