Meu irmão Marcel já escreveu alguns posts para o blog, mas dessa vez quem participa é a minha irmã Tatiana! Ela esteve em Morro de São Paulo e escreveu um post super legal sobre as “férias de mel” com o noivo Fernando, autor dessas fotos incríveis! Valeu maninha!
Coexistem três formas de se chegar a Morro de São Paulo: embarcar em Salvador-BA num catamarã percorrendo o mar por 2h30; ir de carro até a cidade de Valença-BA e depois pegar uma lancha por uns 20 minutos; e, opção mais cara, porém acessível para alguns, é o voo – alguns aviões fazem o trajeto diariamente. Nossa escolha foi pelo percurso de catamarã, com cuidados básicos, como: não estar com o estômago vazio, tomar remédio que ajuda a evitar enjoos e sentar na parte de trás do barco onde balanço é menor. Funcionou! Não desperdiçamos energia para gerenciar tão inoportuno mal estar e conseguimos contemplar plenamente os sutis detalhes do trajeto.
Aos poucos Salvador ficou distante e uma imensidão de mar nos invadiu. As águas criavam um movimento que hipnotizava. Avistávamos de tal forma o horizonte azul que parecia ser possível tocá-lo. Esparsas nuvens cobriam o céu e o sol ardia na pele. O som forte do motor do catamarã dificultava percebermos o silêncio que mora nas profundezas do Oceano Atlântico.
Ainda dentro do barco foi possível antecipar que na Ilha de Tinharé, onde fica o charmosíssimo Morro de São Paulo, difunde-se uma arquitetura que salpica muitas cores na natural paisagem bela. Aportamos no Morro numa segunda-feira de março/2013. O “porto” é uma faixa de concreto fixa sobre o mar. Na ilha não transitam carros, motos ou bicicleta, tudo é feito a pé. “Táxi”, somente para as malas, por valores a partir de R$ 5,00 (cinco reais). Vários homens de diversas idades abordam os turistas oferecendo o serviço. O táxi, alguns (inclusive) pintados do tradicional amarelo, são carros de mão, iguais àqueles utilizados na construção civil.
Para passar pelo portal de acesso ao Morro de São Paulo é preciso enfrentar a primeira ladeira, a qual antecede uma segunda e mais íngreme, acompanhada todo o tempo de uma escada de muitos degraus. Vale a pena o suor e o esforço, porque à medida que se adentra no Morro é possível visualizar detalhes estampados nas fachadas das pousadas e casas. A doce praça da vila nos acolhe, quase num abraço. Uma árvore grande, rodeada por uma varanda de madeira, redobra a vontade de lá sentar-se por um tempo. O tempo, naquele Morro, passa completamente diferente…
As praias têm o nome da ordem que são acessadas a pé: Um, Dois, Três e Quatro. Nós recebemos a indicação-insistente de nos hospedarmos na Praia Dois por vários motivos: localização, infraestrutura, praticidade e astral. Já tínhamos acertado a reserva numa pousada. Fizemos tudo pela internet e, acertamos!
Depois de andarmos por uns 10 ou 15 minutos sob o sol forte e o pouco vento, chegamos à Bahia Brasil, pousada onde ficaríamos por 4 dias. A pousada praticamente não tem portas, tudo está aberto para acolher quem chega. Obras de arte na parede, máscaras se entreolhando e a mistura de bom gosto entre tijolos, sisal e palheta de cores que oscilam prioritariamente entre o branco e o vermelho. Fomos gentilmente acolhidos e informados sobre bons lugares e passeios, além de cuidados necessários no local. Tivemos pressa em deixar as malas e ir cair no mar. No Morro, a água fica visualmente imóvel, há apenas um sutil balanço. Os arrecifes criam um ambiente de paz e conexão. A vontade é ficar na água até o dia nascer de novo.
Naquela primeira tarde caminhamos pelas praias. À medida que o número do nome da praia aumentava, diminuía o número de pessoas ao redor. A menos movimentada era a Praia Quatro: areia branca, muita água e as marcas dos arrecifes na beira da pequenina onda. Da Praia Dois até a Três seguimos por uma agradável calçada de madeira. De um lado areia e mar e, do outro, várias pousadas, alguns bares e lojas. O movimento era envolvente. Barcos e caiaques dividiam espaço naquela imensidão de água.
De dentro da Ilha dá a impressão que nada mais existe ao redor. Somos tomados pela sensação de que o mar termina no céu e, que o céu, descansa no mar. Os idiomas se misturam… o que já tínhamos percebido claramente desde o Catamarã. Muitos argentinos, italianos, chilenos. Vários brasileiros. O espanhol e o português estavam misturados na língua dos trabalhadores do Morro. Seja nas lojas, nos táxis ou na praia era comum sermos abordados com um ¡Hola!
No final de tarde voltamos a passear na vila. Várias lojas e restaurante dividiam a nossa atenção. Pessoas de diferentes idades e estilos passavam por aquelas ruas calçadas e/ou de areia. Diversas opções de balada atraiam os turistas, nós, escolhemos descansar. Adormecemos de exaustão.
Na manhã seguinte fomos agraciados com um delicioso café da manhã. Era transbordante a qualidade e capricho das opções gastronômicas da pousada em que estávamos. Logo saímos para um dos mais tradicionais passeios oferecidos aos visitantes: a “volta à ilha”. Partimos em torno das 9h30 e regressamos às 17h. A comprida e grande Ilha de Tinharé avistada completamente circundada. Uma surpresa foi presenciar uma dança de peixes, que coletivamente saltavam em nossa direção.
Na primeira parada do passeio mergulhamos nas piscinas naturais de Garapuá, depois conhecemos um recorte da Ilha de Boipeba, num canto onde se mistura o salgado e o doce, já que o mar conversa harmonicamente com as águas do Rio do Inferno. Com aquelas águas no corpo, tínhamos a sensação de que o calor não ia nos tomar por inteiro. Ali, fomos convidados a degustar lagostas recém-pescadas e cozidas na manteiga. Uma boa opção de sabor! Logo mais, na parada seguinte, tínhamos à chance de degustar ostras ou de cair na água salobra. Era necessário celebrar aquele encanto. Fernando jogou-se naquele frescor e, eu, aproveitei para pegar a máquina fotográfica e fazer um registro certeiro.
A última parada do passeio foi na segunda cidade mais antiga do Brasil: Cairu. Caminhamos pelas ruas estreitas e fomos mergulhar nas marcas das gerações, nos azulejos azulados nas paredes do antigo Mosteiro (em restauração).
De volta ao Morro, percebemos como é importante ter a chance de viver mais em conexão com o contexto. Praticamente não utilizamos os telefones celulares, apenas para tranquilizar os familiares de que tudo corria maravilhosamente bem. Andávamos a pé, dia e noite. O raro sossego nos tomava por inteiro, tanto que, no dia seguinte à vontade foi apenas de ficar naquela Praia Dois pelo tempo que a coragem deixasse. Alternamos entre jogar frescobol, ficar dentro do mar conversando ou comer um peixe frito sob a proteção do guarda-sol.
Um passeio na vila era sempre uma boa pedida. Sentados num restaurante, ficamos olhando a praça, onde era nítida a mescla entre moradores e forasteiros. Meninos brincavam de jogar bola, mães e filhos passeando, casais de mãos dadas, pessoas ao telefone, táxis com malas. Ao entardecer vale muito a pena conferir o pôr-do-sol da Toca do Morcego, que fica pouco abaixo do Farol. Beleza envolvente, astral energizante e muita memória para ser impressa permanentemente no corpo. Há algo de inenarrável naquele instante em que o brilho do sol deita sobre a água salgada.
No final daquela madrugada, uma passageira chuva lavou a areia e ainda ao amanhecer, caiam gotas do céu. Dava mesmo vontade de chorar em pensar em ir embora daquela grandiosa paz. Porque, apesar do agito, Morro de São Paulo ainda guarda a segurança de um vilarejo que passou a viver do turismo. Fomos muito bem atendidos em todos os lugares que transitamos, e tivemos uma constante sensação de segurança, mesmo quando deixamos a bolsa na mesa para ficar saboreando as águas salgadas quentes de um mar quase parado, uma piscina imensa e infinita.
Moramos em Fortaleza-CE, onde vivemos a constante possibilidade de desfrutar do adorável calor do nordeste e de verão (praticamente) o ano inteiro. Mesmo assim Morro de São Paulo-BA nos conquistou de tal forma, que não dava mais vontade de sair dali. Partimos com a enorme vontade de ficar por lá.
Texto: Tatiana Passos Zylberberg
Fotos: Fernando Bacelar PaivaRegistro de nossas férias de mel
em Morro de São Paulo – Bahia – Brasil
em março de 2013