O Brasil que eu vi é um país feito de pessoas que acordaram, autodeterminadas, capazes de invadir as praças em centenas de milhares para manifestar o próprio ultraje, a própria reprovação. São 28 bilhões de boas razões para fazer isso, proporcionais ao custo estimado da Copa do Mundo do próximo ano. Tudo isso para uma competição que, pelos preços dos ingressos, será inacessível à maioria absoluta dos 200 milhões de habitantes. Na realidade, o protesto começou com uma cifra infinitésima: vinte centavos. A sobrecarga imposta pelas autoridades ao transporte público. De um lado o gigantismo do evento (ou melhor, dos eventos: porque à Copa do Mundo vão-se somar a Copa das Confederações e as Olimpíadas de 2016). Do outro, a cotidianidade feita também por cifras para nós simbólicas, mas vitais para os brasileiros de baixa renda.
O Brasil que eu vi são tantos países em um. A África de Salvador, com o maravilhoso Pelourinho e as festas de São João, as vegetações tropicais e as praias de areia branca. A Europa do Rio, com contrastes muito intensos, devido ao abismo entre a classe alta e a baixa. Entre o chique deslumbrante e caro do Leblon e Ipanema, e a pobreza da favela “legalizada” da Rocinha, haverá em linha reta alguns quilômetros ao máximo. Duas cidades, de fato, em uma.

Foto: Severino Piacquadio
O Brasil que eu vi é um país pelo qual você poderá apenas se apaixonar. Mesmo com uma intoxicação alimentar que te faz perder 5 quilos em dois dias. Mesmo com uma agressão seguida de furto. Não vejo a hora que chegue junho de 2014. Para ali retornar. Tomando apenas um pouco mais de cuidado. À comida de rua. E a quem a comida, pela rua, a procura nas vielas escuras confiando nos bolsos “benfeitores” dos turistas. Como dizem por lá: Faz parte.
Severino Piacquadio completará 47 anos no próximo mês, é jornalista e trabalha na RSI (Rede de Rádio/TV da Suíça italiana). Começou a carreira aos 21 anos, no outono de 1987, trabalhando por um curto período na Rete 3, logo depois de ter sido criada, indo depois para a parte esportiva. Trabalhou 25 anos em rádio (também como correspondente em Milão) e há quase um ano trabalha rede televisiva. (Siga @
Tradução por Michel P. Zylberberg, com revisão de Aquiles Neto.
Texto original em italiano:
Il Brasile che ho visto è un paese fatto di gente che si è risvegliata e autodeterminata, capace di scendere in piazza a centinaia di migliaia per manifestare il proprio sdegno, il proprio dissenso. 15 miliardi di buone ragioni per farlo, tante quanto il costo stimato della coppa del Mondo di calcio del prossimo anno. Una cifra gonfiata a dismisura dalla corruzione. Per una competizione che, visti i prezzi dei biglietti, sarà inaccessibile alla stragrande maggioranza dei 200 milioni di abitanti. In realtà la protesta era cominciata per una cifra infinitesimale: venti centesimi. Il sovrapprezzo imposto dalle autorità sul trasporto pubblico. Da una parte il gigantismo dell’evento (anzi degli eventi: perché alla Coppa del Mondo vanno aggiunti la Confederations Cup e le Olimpiadi del 2016). Dall’altra la quotidianità fatta anche di cifre per noi simboliche, ma vitali per i brasiliani della classe povera.
Il Brasile che ho visto è tanti Paesi in uno. L’Africa di Salvador, col meraviglioso Pelourinho e le feste di Sao Joao, la vegetazione tropicale e le spiagge bianche. L’Europa di Rio, con i contrasti forti come uno schiaffo in faccia tra classe ricca e classe povera. Tra lo chic sfarzoso e costoso di Leblon e Ipanema, e la povertà della favela “legalizzata” della Rocinha ci saranno in linea d’aria un paio di chilometri al massimo. Due città, appunto, in una.
Il Brasile che ho visto è un paese del quale puoi solo infatuarti. Anche con un’intossicazione alimentare che ti fa perdere 5 chili in due giorni. Anche con un’aggressione a scopo di rapina. Non vedo l’ora che arrivi giugno 2014. Per tornarci. Facendo solo un po’ più di attenzione. Al cibo di strada. E a chi il cibo, per strada, lo cerca nelle stradine buie confidando nelle tasche “benefattrici” dei visitatori. Come dicono lì: Faz parte. Fa parte.