Cinco vezes Islândia: Desvendando os mistérios da “terra do gelo”

By | 09.05.2021

Islândia, um pouco de tudo
A Islândia tem paisagens mais variadas do que se imagina, o que significa que (com um pouco de disposição) dá para se ver coisas bem diferentes. A mais azul de todas as Lagoas Azuis? Fica a cerca de meia hora da capital islandesa. O vulcão que, na história de Júlio Verne, serve de porta de entrada para o centro da Terra? Lá está o Snaefels. Uma minúscula e surpreendente ilha perdida no oceano, cortada pelo Círculo Polar Ártico, onde vivem menos de cem isolados moradores? Eis Grímsey.

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O gêiser original? Quedas d’água de encher os olhos? Falhas geológicas impressionantes no ponto onde se encontram as placas continentais da América e da Europa? Desertos em forma de geleiras? Paisagens tão diferentes e inóspitas que serviram de local de treinamento para astronautas estadunidenses? Locais de reprodução do puffin, o simpaticíssimo papagaio-do-mar? Basta escolher o programa que melhor convém ou, melhor ainda, programar-se para ter tempo suficiente de degustar a variada oferta de paisagens da Islândia.

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As luzes do norte
A Islândia está certamente entre os melhores lugares do mundo para se ver a Aurora Boreal, mas isso não significa que é fácil observar o fenômeno. Na verdade, tudo depende do nível de atividade elétrica na atmosfera (o fenômeno é mais intenso no inverno) e também de ausência de nuvens (para que a Aurora seja visível). Não é todo dia que isso acontece; há inclusive uma previsão de Aurora Boreal emitida por meteorologistas. Diante da incerteza, o melhor que o visitante faz é tentar se adiantar: acompanhar as previsões, atentar para a possibilidade de Aurora Boreal desde a primeira noite e não deixar para pensar nisso no final da viagem!


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Reikjavík, a capital
Não esperem uma Paris de Reikjavík: a capital islandesa é menor e mais discreta do que a badalada “Cidade Luz”. Apesar disso, tem seu charme. O centro de Reikjavík é um brinco e rende mais de um passeio agradável a pé, embora nem sempre haja placa com os nomes das ruas (mas se perder também faz parte da viagem, não é?). As ruas de comércio são uma tentação. O porto oferece passeios que também seriam tentadores se não estivéssemos no inverno – mas, ainda assim, vale a visita quando se pensa que o país é uma ilha (ou melhor, um arquipélago) e se fez por causa do mar. Os museus são vários e perdemos a oportunidade de conhecê-los porque cometemos o erro básico de destinar pouco tempo no roteiro para a capital (mas sempre é bom ter um motivo para voltar!). A estação de ônibus não fica exatamente no centro, mas com um pouco de disposição se pode chegar até ela a pé – e isso é importante porque de lá saem ônibus para qualquer ponto de interesse fora da cidade, seja o aeroporto internacional, as águas termais da “Lagoa Azul” ou a caçada à Aurora Boreal. E enfim, a Islândia é um país de comidas surpreendentemente esquisitas, mas Reikjavík também tem uma oferta gastronômica bastante agradável aos mais convencionais paladares brasileiros – e nessa oferta se inclui com destaque um restaurante chamado, por ironia, Café Paris.

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Em busca do Círculo Polar
É, como disse mais acima, um lugar perfeito para ver paisagens realmente diferentes. E a visita a essas paisagens pode ser feita com uma dose calculada de aventura. Cito o exemplo de Grímsey. De Reikjavík, tomamos um avião que atravessa o país na “ponte aérea” islandesa, um voo de 40 min até Akureyri, a segunda maior cidade deles. Passamos a noite lá. No dia seguinte, antes do nascer do sol (lembrem-se de que é inverno e o sol só aparece quando já são quase 10h), um ônibus até o vilarejo de Dalvík (aproveito que o ônibus tem internet wi-fi e vou pesquisando horários, fazendo planos e reservas). O ônibus chega (antes ainda do sol nascer!) justo a tempo de tomarmos o barco. Que está longe de ser um barco pequeno, mas ainda assim é uma casquinha de noz no ventoso e enfurecido mar do norte, tanto que, antes de embarcarmos, havíamos sido avisado das condições da viagem num tom de “vocês têm certeza de que querem mesmo viajar com o mar nesse estado?” Mas não viemos do Brasil até aqui para desistirmos! Depois de umas 3h de mar aberto em que mais da metade dos pouquíssimos passageiros botou as tripas para fora, eis na nossa frente a ilhota de Grímsey! Desembarcando e, com pouco menos de um quilômetro de caminhada, podemos dizer oficialmente: cruzamos o Círculo Polar, chegamos ao Ártico! Grímsey é o ponto mais ao norte do país, famoso por essas bandas justamente por ser cortado ao meio pelo Círculo Polar. Lugar excelente para se avistar a aurora boreal, nas noites de inverno, ou os puffins, nos dias de verão. Mais do que isso: lugar de gente simpática, genuinamente empolgada com a visita (talvez inédita?) de dois brasileiros como nós. Pernoitamos num quarto aconchegante com vista para o mar (e, claro, para o Polo Norte). E quando fomos embora, num teco-teco que levava um total de quatro passageiros, foi com saudade daquele remoto e inusitado pedaço de terra.

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De livros e discos
Para antes e depois da viagem, a cultura do país. Tratei de trazer de lá algo que me ajudasse a conhecer melhor os islandeses, e não me arrependi. Para começar, a Islândia tem um prêmio Nobel de literatura (parece pouco? lembrem-se de que o Brasil, com uma população 600 vezes maior, não tem nenhum). O autor se chama Halldór Laxness, e seu livro mais famoso, “Gente Independente”, tem um mérito comum a outros prêmios Nobel: o de narrar uma história particular que, quase sem querer, assume contornos universais. O livro é sobre um simples pastor islandês, e através dele é sobre todos os pastores islandeses, e afinal sobre todo mundo. É uma leitura para manter os pensamentos na Islândia mesmo bastante tempo depois de voltar da viagem. Assim como dois dos artistas islandeses que ouvi: Ásgeir Trausti e Jónas Sigurdsson. Ambos fazem uma música melódica e bastante agradável aos ouvidos. Que, é claro, acaba sendo uma excelente lembrança de viagem, afinal não é sempre que se pode oferecer a alguém um CD de boa música cantada em islandês.

Textos e fotos por Eduardo Trindade do blog Cartas de tantas léguas

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