Meu nome é Andréa, vivo na Itália há quase 3 anos, mais precisamente em Milão.
A minha vida era normal. Trabalhava, saia com os amigos, fazias as minhas caminhadas no parque, viagens de trem pela Itália… enfim, tudo tranquilo. Sabíamos da existência de um novo virus e de tudo que estava acontecendo na China, mas pensávamos, acredito que como muitos, que esse Coronavírus (COVID-19) estava longe de nós.
Pois não, um belo dia, a noticia que um homem italiano, na cidade de Codogno, região da Lombardia havia tido os sintomas e ja estava confirmado como a primeira pessoa com o famoso vírus, começou a mudar um pouco a nossa rotina.
Não se passaram tantos dias para que o pânico, as fakes news, a correria de alguns em “escapar” para outras regiões, a falta de álcool gel e máscaras faltassem nas farmácias. Eu, como muitos italianos, não sabíamos em quem ou o que acreditar.
Depois de alguns dias, Milão e algumas regiões da Lombardia já se encontravam na zona considerada amarela, que era como se fosse um lembrete para só depois irmos para a zona vermelha, ou seja, parem tudo que estão fazendo e fiquem em casa. No momento só podemos sair de casa para o indispensável, que seria ir ao mercado ou a farmácia.
View this post on InstagramA post shared by Rodando Pelo Mundo 🌏 (@rodandopelomundo) on
Sim, é chato, confesso. Tem dias que você não sabe o que fazer, o que pensar, mas depois vem a certeza que tudo isso, o restare a casa, como dizem os italianos, é para um bem maior, evitando assim mais contágios e mais pessoas nos hospitais.
Para tentar minimizar a solidão, tenho organizado chamadas de video com amigos, fazemos uma espécie de “aperitivos” juntos mas cada um na sua casa, pelo telefone.
No meu prédio, algumas noites, principalmente aos fins de semanas, alguns moradores saem na sacada e tocam instrumentos musicais, ou colocam a música como forma de interagir mesmo que de longe.

” No momento só podemos sair de casa para o indispensável, que seria ir ao mercado ou a farmácia.”
Vejo que muitos centros de yoga tem feito aulas gratuitas via redes sociais, e algumas páginas de aluguéis de quartos e apartamentos não estão cobrando para receber enfermeiros e médicos que tiveram que vir a Milão para trabalhar nos hospitais, as pessoas estão se ajudando.
O que posso dizer sobre o que isso tem me causado? Na verdade, não são sempre dias bons, tem dias que eu não consigo dormir, pensando na situação aqui da Italia e também do meu país, Brasil. Tem dias que procuro me afastar de tudo e não ver e ouvir nenhuma noticia sobre isso. Acabei descobrindo um talento nas artes que eu não sabia que existia, comecei a desenhar mandalas e tem me ajudado muito na meditação.
O que eu espero com tudo isso?
Que as pessoas respeitem, não só aqui na Itália, mas em todas as regiões do mundo, o que está sendo pedido. Que o coletivo predomine, que sejamos todos conscientes em se proteger e proteger aos outros. E o mais importante, você pode estar sozinho mas tem um mundo que está nessa luta com você.
Use a solidão para conhecer a si mesmo, viajar nos livros e na imaginação, aprender novas línguas e criar estratégias e possibilidades diferentes de trabalho. E o mais importante, respire sempre!